Marcelinho da Lua raramente está de mãos e ombros vazios. O cara
está sempre carregando alguma coisa - uma ou até duas cases cheia
de discos, um mixer, uma caixa onde leva os fones de ouvidos ("É
pra não quebrar", diz), uma MPC (espécie de estúdio portátil da
Akai), teclado, telefone celular e, se vacilar, uma dúzia de incensos.
da Lua faz frete para si mesmo e carrega um bocado de idéias - de
batidas, melodias, harmonias, samplers e linhas de baixo. Idéias
legais, idéias malucas, idéias engraçadas e idéias impossíveis, que,
aliás, são sempre as melhores. Convidado por Rafael Ramos, ele
entrou no estúdio da Deckdisc e tirou tudo das mãos, ombros e
cabeça. Só pra ver no que dava. Deu em "Tranqüilo!", seu primeiro
álbum solo. Um disco de DJ, que é bom para ouvir em casa também.
Um disco de produtor, que faz bonito nas pistas de dança também.
Decifre Da Lua e/ou seja atraído por ele.
"Tranqüilo!", um disco sem muito bla bla blá, como
diz o título da música que abre os trabalhos, tirado de um sampler
de (empostar a voz, por favor) Alberto Roberto, o inesquecível
personagem criado por Chico Anysio. A guitarra é cortesia de Pedro
Sá. Outros personagens reais também bateram ponto no estúdio da
Deckdisc. Seu Jorge botou a voz na versão drum and bass
de "Cotidiano", de Chico Buarque, que teve também participação do
maestro Luiz Cláudio Ramos no violão. Bi Ribeiro (ele mesmo, do
Paralamas) e Gustavo Black Alien (ex-Planet Hemp) fizeram a festa
em "Tranqüilo", um cruzamento natural entre reggae e jungle/drum
and bass. Mart’nália tocou pandeiro e cantou "Refazenda",
de Gilberto Gil. Roberto Menescal escreveu, arranjou e deu cores
especiais a "Pro Marcelinho tocar". Lembranças da viagem à
Dinamarca geraram a música "Cristiania`71", com a voz de Helen
Calaça. A rappeira cubana Telmary Diaz, em turnê pelo Brasil com
o grupo Rapeiros de Cuba, foi capturada e levada ao estúdio, onde
gravou "Que cosa fuera", com arquitetura musical assinada por
Mauro Berman (ex-baixista do grupo Coma e atual Marcelo D2)
Gabriel Muzak emprestou a voz para a boemia reggae de "Jornada"
(cuja letra faz uma sutil referência à trajetória dos integrantes do
Dubom). João Donato deu o toque, e que toque, de latinidade a "Lá
fora". Já o toque ecológico ficou por conta de letra de da Lua.
Repare só. "Palafita sunrise" virou uma espécie de samba dub, com
metais sampleados e a lembrança do seminal grupo inglês The
Specials surgindo no meio da fumaça. "Saudade" teve vocais de
Gabriela Geluda e tablas do percussionista Siri. E, por fim, há o
doce no final do arco íris: o balanço suave de "Não pode fazer
barulho", com discurso em favor do silêncio, em francês, feito pela
musa de longa data, Nina Schipper. Aos poucos, o pitch vai sendo
desacelerado e, num simbólico apagar das luzes, após tirar suas
idéias legais, malucas, engraçadas e impossíveis das mãos, ombros
e cabeça, da Lua simplesmente sussurra: "Valeu, brou, té mais". Tá
gravado o recado. *Depois do lançamento do álbum, Marcelinho da
Lua sagrou-se bicampeão no Video Music Brasil, premiação da MTV,
na categoria “Melhor Clipe de Música Eletrônica”, com os clipes
de “Cotidiano” (2004) e “Refazenda” (2005). Em 2005, Marcelinho
continuou desenvolvendo parcerias com músicos dos mais variados
estilos. Para os Paralamas do Sucesso, criou uma versão dub da
faixa “Ao Acaso”, incluída no álbum “Hoje”. Já o clássico “Vô Batê Pá
Tu”, de Orlandivo, ganhou uma versão eletrônica no novo CD do
cantor carioca, “Sambaflex”. Marcelinho Da Lua ainda destilou sua
criatividade remixando as faixas “Na rua, na chuva, na fazenda
(Casinha de Sapê)” e “As dores do mundo” no relançamento do
clássico álbum de Hyldon, “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda”, 30 anos
depois.
Trecho de de Release do Álbum feito
Por Carlos Albuquerque
Agosto / 2003
texto completo
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